Deus
e o Sofrimento Humano
Pedro Apolinário – Sermões Exaltando a Verdade – Casa
Publicadora Brasileira – 1a. Edição
Professor de Grego e Exegese Bíblica do Seminário Latino
Americano de Teologia – Eng. Coelho, S.P
Um garoto de
apenas três anos recebeu o que muito almejava: uma visita à Disneylândia. Após
90 minutos de visita morreu, antes de ser fotografado com Mickey, o seu
personagem favorito.
Estêvão, este
era o seu nome, tinha um defeito congênito no coração. O perigo da morte estava
ao seu lado a cada instante. A vida se extinguiu antes dele ter a oportunidade
de saber verdadeiramente o que é a vida.
Por que Deus
permite que morram crianças como Estêvão?
Uma explosão,
numa mina de carvão na Alemanha, ceifou a vida de mais de 90 mineiros. Eram
homens que trabalhavam arduamente; muitos eram pais amorosos e esposos
dedicados. É difícil descrever a dor, a tragédia e a angústia das viúvas e de
seus familiares pela perda irreparável.
Onde estava
Deus? Por que permitiu que ocorresse
aquele terrível desastre? Não é fácil
entender
Durante a
Primeira Guerra Mundial mais de oito milhões de soldados perderam a vida.
Milhões de cidadãos que não tomaram parte diretamente na batalha também
morreram e outros milhões tiveram que sofrer as mutilações da guerra.
A Segunda Guerra
Mundial foi mais catastrófica ainda, porque o número de mortos, feridos e
mutilados foi muito superior.
Por que Deus
permite tantos sofrimentos? Por que permite que as nações façam guerra?
As inundações e
as secas são um açoite em várias regiões do mundo. As plantas fenecem, o gado
não pode sobreviver e o espectro da miséria e da fome cai sobre muitos.
Por que permite
Deus que desastres naturais tragam a fome, enfermidades e a morte?
Diante desta
realidade o filósofo alemão Nietzsche exclamou: “Deus está morto”. Bertrand
Russel, o eminente matemático e filósofo inglês, escreveu os famosos “Ensaios
não Populares” tentando provar que Deus nunca existiu.
Estes dois
pensadores nada mais fizeram do que “dar coices contra o aguilhão”.
Os
intrincados pormenores do sistema terrestre que tornam possível a vida são
provas irrefutáveis de um poder maior que o dos homens. A assombrosa magnitude
do Universo com sua massa incalculável de galáxias, de estrelas e sistemas
planetários, bem como a imensidão incalculável de suas distâncias declaram
solenemente: Deus existe! “Porque os atributos invisíveis de Deus, a Sua
própria divindade, claramente se reconhecem, por meio das coisas que foram
criadas” (Romanos 1:20). O Salmo 14:1 declara sem rodeios: “Diz o insensato no
seu coração: Não há Deus.”
Há uma razão pela qual o ser humano enfrenta problemas que não parecem ter
solução. Há uma razão pela qual a humanidade tem sofrido tantas guerras e
transtornos ao longo de sua história. Há uma razão pela qual a enfermidade
segue devastando o homem, apesar dos maravilhosos avanços tecnológicos e o
progresso científico que tem adquirido. Há uma razão definida pela qual Deus
nem sempre salva o homem da seca, da fome e das pragas.
Onde encontrar a resposta às inquietadoras perguntas até agora formuladas?
A única fonte confiável e segura para uma resposta aceitável se encontra na
Bíblia. As Escrituras Sagradas nos esclarecem que Deus não é o culpado pelos
males existentes entre nós. De Deus só vem o bem; as angústias, calamidades,
doenças e misérias têm sua origem num ser que se rebelou contra Deus,
desencadeando uma série de infortúnios.
Ezequiel 28 nos apresenta este ser que era o “sinete da perfeição”, “cheio
de sabedoria”, que andava no monte santo de Deus. O orgulho e a ambição foram
as causas primordiais, que levaram Lúcifer a se afastar de Deus. Ezequiel
descreve este ser angélico “perfeito em seus caminhos desde o dia em que fora
criado”, mas “elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a
tua sabedoria por causa do teu resplendor” (Ezequiel 28:17).
Deus não criou autômatos ou robôs obrigados a Lhe prestar obediência, mas
seres livres com a capacidade de escolha. Tendo esta possibilidade a pessoa
pode escolher de maneira acertada ou errada e Deus não pode ser
responsabilizado por isso.
Nossos Primeiros Pais e a Opcão da
Escolha
Gênesis 1:1 afirma claramente que no princípio criou Deus os Céus e a
Terra”. O grande Deus, que habita numa dimensão diferente da nossa dimensão
física deu um princípio a tudo. “Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27).
Aos nossos
primeiros pais lhes foi dada uma simples norma de vida e a opção de segui-la ou
rejeitá-la. Deus os advertiu sobre as conseqüências advindas se tomassem uma
decisão errada: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: de toda árvore do jardim
comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás;
porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:16 e 17).
Nossos primeiros
pais tomaram uma decisão errada! Não puderam por insinuação do inimigo resistir
à tentação de provar da”’ da ciência do bem e do mal”. Em lugar daquela
poderiam ter tomado de qualquer das árvores que Deus havia posto a sua disposição,
inclusive da árvore da vida, a representação simbólica do caminho da vida, que
conduz à felicidade, à vida abundante e finalmente à vida eterna.
Porém, em lugar
de seguirem a orientação divina, escolheram a árvore da ciência do bem e do
mal” que representa o caminho que traz tristezas, dificuldades e finalmente a
morte. Isso explica o porquê de todo sofrimento, as guerras, as dores e as
misérias do passado e do presente.
A Culpa Não é de Deus
Não podemos
atribuir a Deus a culpa por nossos pecados: “Ninguém, ao ser tentado, diga: sou
tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e Ele mesmo a
ninguém tenta” (Tiago 1:13).
Deus conhece muito bem o que ocorre na Terra. Ele
conhece o sofrimento e a dor que atingem o homem. Porém, não foi Deus que escolheu
o caminho que a humanidade tem seguido. “Eis que a mão do Senhor não está
encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o Seu ouvido, para não poder
ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os
vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Isaías 59:1
e 2).
Deus não quer
que a humanidade sofra; Ele não queria que Adão e Eva sofressem. “Deus é amor.”
(1 João 4:16). Deus é compassivo, misericordioso, e paciente; Ele Se interessa
por você e por mim.
A realidade é esta: Deus não quis
privar-nos da liberdade de tomar decisões. Seu propósito foi desenvolver no
homem uma mente que possa desejar e escolher livremente o caminho de Deus. Para
alcançar este objetivo a humanidade tem que aprender que o seu próprio caminho
“do bem e do mal” conduz a um completo fracasso.
O livro de Jó
foi escrito para apresentar uma solução correta para o problema do sofrimento
humano, mas ele também nos mostra a incapadidade do homem para compreender o
sofrimento sem o auxílio divino.
Idéias Diferentes para o Sofrimento
1- É a vontade de Deus.
2- É o castigo que a pessoa recebe por causa do
seu pecado.
3- Sofremos porque Deus nos está disciplinando.
4- O sofrimento é causado por Satanás e pela
desobediência ou ignorância do homem.
Estas quatro explicações são apresentadas no livro
de Jó, mas três delas são idéias dos homens.
Vamos analisar
uma por uma:
1- É a vontade de Deus.
Há muitos que
crêem, que as tragédias sobrevindas manifestam a vontade de Deus. O próprio Jó
assim pensava ao afirmar em Jó 19:6: “sabei agora que Deus é que me oprimiu”.
No capítulo 30 ele sustenta a mesma idéia.
Os muçulmanos
afirmam taxativamente: o sofrimento é a vontade de Deus.
O poeta
Magalhães Muniz declarou: “O sofrimento é lâmpada sagrada, /Que a mão de Deus
acende em nossa vida.”
A Bíblia não
concorda com esse ensinamento.
2- Deus
castiga a pessoa por causa do seu pecado.
Os judeus eram
defensores desta idéia.
Os três amigos
de Jó têm a mesma crença: Jó 4:7; 8:10-13. O próprio livro de Jó contesta este
ensinamento. Veja Jó 1:1 e 8.
3- Sofremos porque Deus nos está disciplinando.
O jovem Eliú
parece ser o pai deste argumento. Carmen Suplicy afirmou: “O sofrimento é a
escada da purificação.” Se a perfeição fosse adquirida pelo sofrimento teríamos
a salvação pelas obras. As penitências teriam a aprovação divina.
Deus repreendeu
os amigos de Jó, porque o acusaram injustamente, por terem atribuído o
sofrimento do patriarca à ira divina.
Nos capítulos 38
e 39 há mais ou menos 40 perguntas com o objetivo de nos mostrar que Deus é o
Criador e Mantenedor de tudo. Se Deus cuida dos animais, quanto mais não
cuidará dos homens criados a Sua imagem e semelhança? Deus não Se esquecera de
Jó, sofrera com ele, como pois afirmar que Ele era o autor do castigo? Deus não
é contraditório nem conflitante.
A leitura destas
três passagens: Salmos 9:8; 41:3 e 11; e I Coríntios 1:4 são suficientes para
nos provar que Deus não está alheio aos nossos sofrimentos.
4- Qual a explicação bíblica para a dor e o
sofrimento?
A dor surgiu,
como já vimos, pela desobediência às ordens divinas. Provérbios 26:2: “assim, a
maldição sem causa não se cumpre”
O culpado pelos
males foi Satanás, mas também nossos primeiros pais por desobedecerem a Deus.
Alguém escreveu:
“Deus fez o
bem —
o homem escolheu o mal.”
“Deus fez o
homem justo — o homem procurou a impiedade.”
“Deus o fez
feliz — ele procurou a desgraça e a miséria.”
A desobediência
à lei divina trouxe dor, sofrimento, miséria, morte.
‘A história de
Jó mostrara que o sofrimento é infligido por Satanás, mas Deus predomina sobre
ele, para fins misericordiosos.” — O
Desejado de Todas as Nações, pág. 471.
Deus pode
transformar o sofrimento que Satanás inflige ao homem numa bênção, já que o
sofrimento nos ensina a paciência e pode até ser permitido para controlar
ambições e remover o egoísmo. O sofrimento foi permitido a Paulo para que ele
não se exaltasse (II Coríntios 12:1) A obra de Cristo consiste em livrar o
homem do sofrimento e da morte como nos ensina Paulo em Romanos 8:21 e I
Coríntios 15:26.
Qual deve ser a
nossa atitude diante do sofrimento? Aceitá-lo com espírito cristão e confiar
mais em Deus (1 Pedro 4:16 e 19).
Orientação do Espírito de Profecia
“A dor não pode
existir na atmosfera do Céu. Ali não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres,
manifestações de pesar... ‘morador nenhum dirá: enfermo estou; porque o povo
que habitar nela será absolvido da sua iniqüidade’ (Isaías 33:24.)” — O Grande Conflito, pág. 676.
“As provas são
parte da educação recebida na escola de Cristo, para purificar os filhos de
Deus da escória do que ê terreno. É porque Deus está guiando Seus filhos que
lhes sobrevêm experiências decisivas. Provas e obstáculos são Seus métodos
escolhidos de disciplina, e as condições por Ele indicadas para o êxito.” — Atos dos Apóstolos, pág. 524.
“O fato de
ser-nos pedido que suportemos aflições, prova que o Senhor Jesus vê em nós
alguma coisa muito preciosa, que quer desenvolver... Cristo não lança em Sua
fornalha pedras sem valor. E o minério valioso o que Ele prova, O ferreiro põe
no fogo o ferro e o aço a fim de lhes provar a têmpera. O Senhor permite que
Seus escolhidos sejam postos na fornalha da aflição, a fim de que Ele possa ver
de que têmpera são feitos, e se Ele os pode moldar e adaptar para a Sua obra.” —
Testemunhos Sei etos, vol.3, pág.
194.
Se no início da
Bíblia há o relato da entrada da dor e do sofrimento, no seu final há promessas
de um novo céu e uma nova Terra onde as coisas desagradáveis estarão no
passado.
Há uma concepção errada entre muitos adventistas, a
respeito do sofrimento. Crêem que se forem fiéis em seguir a Cristo não
sofrerão desastres etc., etc. Onde a Bíblia ensina isto? Ao contrário, em Lucas
21:8-19, Cristo nos diz que os sofrimentos viriam sobre nos.
A Bíblia nos diz
que devemos dar graças a Deus por tudo (II Tessalonicenses 5:18).
Deveremos então
agradecer pela dor e o sofrimento? Evidentemente que não. Há muitas coisas
desagradáveis que nos sobrevêm não por Sua vontade, como já foi visto. Diante de
acontecimentos tristes e desagradáveis devemos agradecer por Ele não nos
desamparar e por nos dar forças para enfrentar os dissabores com espírito
cristão. Romanos 8:28 merece nossa atenção: “Sabemos que todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...”
Annie Johnson
Flint, escreveu um lindo poema que diz: “Deus não prometeu céus sempre azuis,
veredas semeadas de flores por toda a vida; não prometeu sol sem chuva, nem
alegrias sem tristezas ou paz sem dor; mas Deus prometeu forças para o dia, luz
para o caminho, graças para as tribulações, auxílio de cima, compaixão
inalterável e imorredouro amor.”
Cristo — A
Solução Para o Problema
A humanidade
pelo pecado se afastou de Deus, mas através de Cristo a ligação com Deus pode
ser restabelecida. Por Seu intermédio podemos receber o completo dom da vida
eterna (Romanos 6:23).
Jesus veio pagar
a pena de morte que merecíamos “porque o salário do pecado é a morte” (Romanos
6:23).
Deus observa o
desenrolar dos acontecimentos na Terra. Permite que o ser humano tome decisões.
O objetivo é que aprenda por experiência própria quão errados são os caminhos
que lhe parecem retos.
Chegará o dia em
que Deus intervirá na história da humanidade, enviando o Seu Filho a este mundo
como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Apocalipse 19:16), pondo fim às
dores, sofrimentos, guerras e decepções, porque rodas estas coisas serão
passadas.
Conclusão
Diante da dor e do sofrimento — os estóicos suportam; os epicuristas
procuram o prazer como compensação; os budistas e os hindus, sem esperança, se
retiram desiludidos; os maometanos se submetem, pois crêem ser a vontade de
Deus; mas nós, firmados na Bíblia, compreendemos a origem do mal e nos
alegramos pelas preciosas promessas de Cristo.
Demos graças a Deus pela orientação segura da Sua Palavra e porque
esperamos uma terra onde poderemos viver felizes, sem temor, decepções e
sofrimentos.