TEXTO E FORMA
Antigo
Testamento é o nome dado, desde os primórdios do Cristianismo, às escrituras
sagradas do povo de Israel, formadas por um conjunto de livros muito diferentes
uns dos outros em caráter e gênero literário e pertencentes a diversas épocas e
autores.
O Antigo Testamento ocupa, sem
dúvida, um lugar preeminente no quadro geral da importante literatura surgida
no Antigo Oriente Médio. No decorrer da sua longa história, egípcios, sumérios,
assírios, babilônicos, fenícios, hititas, persas e outros povos da região
produziram um importante tesouro de obras literárias; porém nenhuma delas se
compara ao Antigo Testamento quanto à riqueza dos temas e beleza de expressão
e, muito menos, quanto ao valor religioso.Os gêneros literários do Antigo Testamento
Em termos gerais, todos os
escritos do Antigo Testamento podem ser incluídos em um ou outro dos dois
grandes gêneros literários que são a prosa e a poesia; em tudo,
uma segunda aproximação permite apreciar a grande diversidade de classes e
estilos que, muitas vezes misturados entre si, configuram ambos os gêneros.
Quanto à prosa, é o gênero no qual estão escritos textos
como os seguintes:
(a) relatos
históricos, presentes sobretudo nos livros de caráter narrativo e que, a
partir de Abraão (Gn 11.27—25.11), referem-se ou diretamente ao povo de Israel
e aos seus personagens mais significativos ou indiretamente aos povos e nações
cuja história está relacionada muito de perto com Israel;
(b) o
relato de Gn 1—3 sobre as origens do mundo e da humanidade, o qual, do
ponto de vista literário, merece referência à parte;
(c) passagens
especiais (p. ex., a história dos patriarcas), narrações épicas (p.
ex., o êxodo do Egito e a conquista de Canaã), quadros familiares (p. ex., o
livro de Rute), profecias (em parte), visões, crônicas oficiais,
diálogos, discursos, instruções, exortações e genealogias;
(d) textos
legais e normas de conduta e regulamentação da prática religiosa coletiva e
pessoal.
Quanto
à poesia, o Antigo Testamento oferece vários modelos
literários, que podem ser resumidos em:
(a) cúlticos (p.
ex., Salmos e Lamentações);
(b) proféticos (uma
parte muito importante dos textos dos profetas de Israel);
(c) sapienciais, os
quais recolhem reflexões e ensinamentos relativos à vida diária (Provérbios e Eclesiastes)
ou que giram em torno de algum problema de caráter teológico (Jó).
Autores e tradição
De acordo com a sua origem, os
livros do Antigo Testamento podem ser classificados em dois grandes grupos. O
primeiro é formado pelos escritos que deixam transparecer a atividade criadora
do autor e parecem ser marcados pelo selo da sua personalidade. Tal é o caso de
boa parte dos textos proféticos, cuja mensagem inicial foi, às vezes, ampliada,
chegando, posteriormente, ao seu pleno desenvolvimento em âmbitos onde a
inspiração do profeta original se deixava sentir com intensidade.
No segundo grupo são incluídos
os livros nos quais, não tendo permanecido marcas próprias do autor, foram as
tradições que se encarregaram de transmitir a mensagem preservada pelo povo,
proclamando-a e aplicando-a às circunstâncias próprias de cada tempo novo. A
esse grupo pertence uma boa parte da narrativa histórica e da literatura
cúltica e sapiencial.
Transmissão do texto
A passagem da tradição oral
para a escrita chega ao Antigo Testamento num tempo em que o papiro e o
pergaminho já estavam em uso como materiais de escrita. Deles se faziam longas
tiras que, convenientemente unidas, formavam os chamados “rolos”, uma espécie
de cilindros de peso e volume às vezes consideráveis. Assim, chegaram até nós
os textos do Antigo Testamento (cf. Jr 36), ainda que não nos seus manuscritos
hebraicos originais, porque com o tempo todos desapareceram, mas graças à
grande quantidade de cópias feitas ao longo de muitos séculos. Dentre elas, as
mais antigas que temos pertencem ao séc. I a.C. Foram descobertas em lugares como
Qumran, a oeste do mar Morto, algumas em muito bom estado de conservação e
outras, muito deterioradas e reduzidas a fragmentos.
Das cópias que contêm o texto
integral da Bíblia Hebraica, a mais antiga é o Códice de Alepo, que data do
séc. X d.C. e é o reflexo da tradição tiberiense.
O sistema alfabético utilizado
nos primitivos manuscritos hebraicos carecia de vogais: na sua época e de
acordo com um uso comum de diversas línguas semíticas, somente as consoantes
tinham representação gráfica. Essa peculiaridade era, obviamente, uma fonte de
sérios problemas de leitura e interpretação dos escritos bíblicos, cuja
unificação realizaram os especialistas judeus do final do séc. I d.C.
O trabalho daqueles sábios foi
favorecido na última parte do séc. V a.C. pelo desenvolvimento, sobretudo em
Tiberíades e Babilônia, de um sistema de leitura que culminou entre os séculos
VIII e XI d.C. com a composição do texto chamado “massorético”. Nele, fruto do
intenso trabalho realizado pelos “massoretas” (ou “transmissores da tradição”),
ficou definitivamente fixada a leitura da Bíblia Hebraica através de um
complicado conjunto de sinais vocálicos e entonação.
Apesar do excelente cuidado
que os copistas tiveram para fazer e conservar as cópias do texto bíblico, nem
sempre puderam evitar que aqui e ali fossem introduzidas pequenas variantes na
escrita. Por isso, a fim de descobrir e avaliar tais variantes, o estudo dos
antigos manuscritos implica uma minuciosa tarefa de comparação de textos, não
somente entre umas ou outras cópias hebraicas, mas também em antigas traduções
para outras línguas: o texto samaritano do Pentateuco (escrita samaritana); as
versões gregas, especialmente a LXX (feita em Alexandria entre os séculos
III e II a.C. e utilizada freqüentemente pelos escritores do Novo Testamento);
as aramaicas (os targumim, versões parafrásticas); as latinas, em
especial a Vulgata; as siríacas, as coptas ou a armênia. Os resultados
desse trabalho de fixação do texto se encontram sintetizados nas edições
críticas da Bíblia Hebraica.
a.C. antes
de Cristo
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