GÊNESIS
O título do livro de Gênesis
Gênesis é o termo
grego — de onde vem “gênese” em português — com que a Septuaginta nomeia o
primeiro livro da Bíblia. Significa “origem” ou “princípio”, o que corresponde
de um modo geral ao conteúdo do livro. Com efeito, nele são narrados, desde uma
perspectiva religiosa, as origens do universo, da terra, do gênero humano e, em
particular, do povo de Israel. Na Bíblia Hebraica, este livro tem como título a
sua primeira palavra, Bereshit, comumente traduzida por “No
princípio” (1.1).
Divisão do livro de Gênesis
O livro de Gênesis (= Gn)
compõe-se de duas grandes seções. A primeira (caps. 1—11) contém a chamada
“história das origens” ou “história dos primórdios”, que inicia com o relato da
criação do mundo (1.1—2.4a). Trata-se de uma narrativa poética de grande
beleza, à qual segue a narrativa da origem do ser humano, colocado por Deus
neste mundo que havia criado. A segunda parte (caps. 12—50) enfoca o tema dos
inícios mais remotos da história de Israel. É conhecida como “história dos
patriarcas” e centra o seu interesse em Abraão, Isaque e Jacó, respectivamente
pai, filho e neto, nos quais o povo de Deus tem as suas raízes mais profundas.
A história das origens
“No princípio, criou Deus os céus e a terra” (1.1).
Este enunciado categórico e solene abre a leitura de Gênesis e
de toda a Bíblia. É a afirmação do poder total e absoluto de Deus, o único e
eterno Deus, a cuja vontade se deve tudo que existe, pois “sem ele nada do que
foi feito se fez” (Jo 1.3). O universo é resultado da ação de Deus, que, com a
sua palavra, criou o mundo, o tornou habitável e o povoou com seres viventes.
Entre estes pôs também a espécie humana, que diferenciou de todas as outras ao
conferir-lhe uma dignidade especial, criando-a “à sua imagem, à imagem de Deus”
(1.26-27).
Este relato inicial de Gênesis considera
o homem e a mulher em uma particular relação com Deus, de quem receberam a
comissão de governar de modo responsável o mundo do qual eles próprios são
parte (1.28-30; 2.19-20). Com efeito, o ser humano (hebr. adam) foi
formado “do pó da terra” (adamá), ou seja, da mesma substância que o
resto da criação; porém “o Senhor Deus...
lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”
(2.7). A criação do homem, do varão (ish) é seguida no Gênesis pela
da mulher (ishá), vindo a constituir entre os dois a unidade essencial
do casal humano (2.22-24).
A relação especial que Deus estabelece com Adão e
Eva se define como uma permanente amizade, oferecida para ser aceita
livremente. Deus, criador de tudo e soberano absoluto do universo, oferece a
sua amizade; o ser humano está livre para aceitá-la ou rejeitá-la. O sinal da
atitude humana ante a oferta divina se identifica com o preceito que, por um
lado, afirma a soberania de Deus e, por outro lado, estabelece a
responsabilidade do ser humano no gozo da liberdade: “da árvore do conhecimento
do bem e do mal não comerás” (2.17). Porém Adão, o ser humano, querendo
igualar-se a Deus, quebra a condição imposta com um ato de rebeldia que lhe
fecha o acesso à “árvore da vida” (3.22-24) e abre as portas ao império do
pecado, cujas conseqüências são o sofrimento e a morte.
A história dos patriarcas
Esta segunda parte de Gênesis (caps.
12—50) representa o começo de uma nova etapa no desenvolvimento da humanidade,
uma etapa na qual Deus atua no sentido de libertar os seres humanos da situação
à qual o pecado os conduziu.
A história entra em uma nova fase com a revelação
de Deus a Abraão, a quem ordena que deixe para trás a sua parentela e a sua
terra e emigre para terras desconhecidas. Promete-lhe fazer dele uma grande
nação, abençoá-lo e engrandecer-lhe o nome (12.1-3) e lhe confirma essa
promessa estabelecendo uma aliança segundo a qual em Abraão seriam “benditas
todas as famílias da terra” (12.3; cf. Gl 3.8).
O livro de Gênesis destaca que
o Senhor não atua de
forma arbitrária ao escolher Abraão, mas que a sua eleição faz parte de um
plano de salvação que se estende ao mundo inteiro. O fim último desse plano, a
universalidade da ação salvífica de Deus, se manifesta no fato simbólico da
mudança do nome de Abrão para Abraão, que
significa “pai de numerosas nações” (17.5).
Quando Abraão morre, o seu filho Isaque passa a ser
o depositário da promessa de Deus; e, depois de Isaque, Jacó. Assim ela foi
sendo transmitida de uma geração a outra, de pai para filho. E todos, como
Abraão, viveram como estrangeiros, fora do seu lugar de origem. Os patriarcas (isto
é, “pais de uma linhagem”) eram pastores seminômades, em constante movimento
migratório. A sua vida transcorreu entre contínuas mudanças e reassentamentos
que, registrados no livro de Gênesis, dão à narrativa um
caráter peculiar.
Jacó, por ocasião de um misterioso episódio que
teve lugar em Peniel (32.28-30; cf. 35.10), recebeu o nome de Israel (“aquele
que luta com Deus” ou “Deus luta”). Esse nome foi usado mais tarde para
identificar as doze tribos, depois o Reino do Norte e finalmente a nação
israelita na sua totalidade.
A história de José, filho de Jacó, é fascinante.
Vendido como escravo e levado ao Egito, José caiu nas graças do faraó que lá
reinava. O faraó o elevou ao segundo posto no governo do país (41.39-44). Essa
posição política elevada permitiu ao jovem hebreu trazer para junto de si o seu
pai, que, com os seus filhos, familiares e os seus rebanhos (46.5-7,26), se
estabeleceu no delta do Nilo, na região de Gósen, uma terra rica em pastos e
apropriada às suas necessidades e ao seu gênero de vida.
Morrendo Jacó, os seus filhos trasladaram o corpo a
Canaã e o sepultaram em um túmulo que Abraão havia comprado (50.13) para ali
enterrar a sua esposa (23.16-20). Essa compra de um terreno para sepultura tem
no livro de Gênesis um claro sentido simbólico, prefigurando a
tomada de posse pelos israelitas de um território onde os patriarcas do povo
haviam vivido como estrangeiros em outra época.
Esboço do livro de Gênesis:
1. História das origens (1.1—11.32)
2. História dos patriarcas (12.1—50.26)
a. Abraão (12.1—25.18)
b. Isaque (25.19—26.35)
c. Jacó (27.1—36.43)
d. José (37.1—50.26)
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