quinta-feira, 9 de julho de 2020

RUTE

RUTE

O livro de Rute

Com esta pequena jóia da literatura bíblica, o gênero narrativo hebraico se eleva a um dos mais altos patamares artísticos. O livro remete o leitor à violenta e agitada época dos “juízes” de Israel (1.1); no entanto, em contraste com o clima inquieto que caracteriza a história daqueles heróis guerreiros, Rute (= Rt) apresenta-se como um delicioso canto à paz e à serenidade da vida no campo.
A Bíblia Hebraica inclui este livro na terceira parte do cânon, no grupo dos Escritos (ketubim), entre Provérbios e Cântico dos Cânticos. Tal posição no cânon, unida à presença no texto de determinados dados culturais e lingüísticos, aponta para a possibilidade de Rute não ter alcançado a sua forma definitiva até depois do exílio babilônico, em uma data posterior à dos fatos que narra. Na versão grega dos Setenta, o livro de Rute vem logo depois de Juízes, provavelmente por causa da informação cronológica com que o texto começa.

A narrativa do livro de Rute

Rute, uma moça de Moabe, é a personagem principal da história. Casada com um israelita, filho de Noemi, conheceu muito cedo as amarguras da viuvez. Noemi, procedente de Belém de Judá, havia emigrado com o seu marido e os seus dois filhos para terras moabitas, onde morreram os três, deixando Noemi “desamparada de seus dois filhos e de seu marido” (1.5). Naquela situação trágica, resolveu regressar a Belém; e assim o fez, acompanhada da sua nora Rute, a qual, num gesto de extraordinária lealdade, lhe havia declarado: “O teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (1.16; cf. 1.16-18). Rute era uma jovem dotada das mais belas qualidades: dedicada, decidida e trabalhadora, disposta, inclusive, a pôr a sua honra em risco com o fim de perpetuar o nome do seu esposo falecido. O encanto pessoal de Rute atraiu a Belém um parente do marido de Noemi, chamado Boaz, o qual, conforme as leis e costumes da época, a tomou por esposa. Com o nascimento de Obede, o seu primeiro filho, foi assegurada a sobrevivência do nome da família (4.10; cf. 1.11-13). Algumas anotações no final do texto de Rute revelam que Obede foi o avô paterno de Davi (4.17,21-22); de modo que Rute, uma estrangeira (2.10), não só foi integrada ao povo de Deus como também, mais surpreendentemente ainda, à própria linhagem da monarquia davídica.
Ao lado da rica personalidade de Rute, entra em jogo a de Noemi, mulher generosa e sábia nos seus conselhos (1.8-13; 2.22; 3.1-4), que, com plena confiança no Senhor, enfrenta decidida e corajosamente um destino extremamente doloroso.
O terceiro personagem principal do livro é o abastado Boaz, homem afetuoso, pleno conhecedor dos seus direitos e decidido a fazê-los valer. Mostra-se, além disso, cumpridor de todos os compromissos a que o obriga a sua condição de parente de Elimeleque, entre os quais está o casamento com Rute (4.3-12).

A mensagem do livro de Rute

A história, acontecida em grande parte na pequena vila de Belém de Judá, é narrada em termos do cotidiano de pessoas humildes e de coração nobre. Diante do rigor das concepções étnicas mantidas pelo povo de Israel recém-estabelecido em Canaã — entre elas, a oposição à união entre um judeu e uma estrangeira (cf. Ed 9—10; Ne 13.23-27) —, Rute oferece um horizonte aberto à amizade e ao relacionamento pacífico com o forasteiro. Muito distante do enfoque desta narrativa está qualquer forma de racismo ou de nacionalismo ferrenho. A narrativa é como uma ponte estendida do Antigo Testamento até à mensagem do Novo Testamento, até à pregação cristã da igualdade de todos os seres humanos diante dos olhos de Deus (cf. Dt 23.3,6 com Mt 28.16-20; At 1.8). É uma ponte fundada sobre uma constância histórica: a genealogia que se inicia em Rute, a moabita, e que levará, finalmente, ao nascimento de Jesus (cf. Mt 1.5). Assim, com a sua presença no Antigo Testamento, Rute prefigura, em dimensão profética, o valor universal da obra redentora de Jesus Cristo.

Esboço do livro de Rute:

1. A família de Elimeleque em Moabe (1.1-5)
2. Noemi regressa com Rute a Belém (1.6-22)
3. Rute no campo de Boaz (2.1-23)
4. Boaz compromete-se com Rute (3.1-18)
5. Boaz recebe Rute como a sua esposa (4.1-17)
6. Os antepassados do rei Davi (4.18-22)

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