Mudanças
teológicas aconteceram como o povo de Israel entre 586 e 538 a.C. durante o exílio
babilônico. Embora isso não esteja explícito na Bíblia, pode ser entendido
através dos livros de Reis, Crônicas e Jeremias 52. O povo de Judá em grande
número, embora não se saibam quantos, foi deportado para a Babilônia e uns
poucos remanescentes permaneceram em suas terras. Da mesma forma muitos também
se refugiaram no Egito durante este tempo de repressão.
Os
babilônios
tomaram as terras de Judá e colocaram como líderes aliados seus que
tivessem
ligação com o povo judeu e sua religião, como Gedalias que governou em
Mispa,
para manter o controle do povo. Houve interferência em assuntos internos
de
Judá e uma reforma agrária foi realizada redistribuindo as terras do
povo judeu para pessoas humildes mesmo sendo de outros povos, o que
causou uma
desestruturação econômica e religiosa. A partir de então a terra santa
era
dominada e habitada por pagãos.
Um vínculo
político religioso foi mantido através de Jeremias como profeta e Gedalias como
governador em Mispa, considerada como capital na época. Isso trouxe um pouco de
esperança ao povo que tinha em Gedalias o seu líder e Jeremias como veículo da
voz de Deus dando esperança de que haveria um novo tempo de restauração e que o
tempo em que viviam era um juízo de Javé sobre Israel. Enquanto isso o povo
aprendeu a orar e lamentar.
Os que ficaram
em Judá sofreram ao ver as mudanças e infiltrações de outros povos e religiões
em suas terras enquanto Zedequias governava como rei súdito da babilônia. Os sacerdotes continuaram tentando manter o
culto tradicional no templo e houve peregrinações para Jerusalém até depois da
morte de Gedalias.
Nessa época
surgiu o Escrito Sacerdotal, ou seja, a parte mais recente do Pentateuco. Estes
escritos contribuíram para o povo entender que da mesma forma que Israel se
estabeleceu como comunidade cultual no Sinai, eles poderiam ser povo de Javé
onde se reunirem para o culto. Foi neste
momento que findou a angústia do povo que se via longe da terra e do templo de
seu Deus, pensando que por isso não poderia invocá-lo, aprendendo a cultuar de
uma maneira diferente.
O povo exilado
tentou se agrupar e viveram em colônias semilivres, continuava considerando
Joaquim como seu rei também deportado com eles, viviam em suas antigas
estruturas familiares (clãs), possuíam casas e muitos adquiriam propriedades.
Contudo o culto sacrifical não podia acontecer em terra ímpia.
Ezequiel foi um
profeta exilado e pregou a palavra de Deus ao povo judaíta na babilônia. Os
exilados pensavam que Yahweh tinha sido derrotado então Ezequiel ensinou o povo
a aceitar o tempo que viviam como conseqüência do castigo de Yahweh sobre
Jerusalém e que aqueles que estavam no exílio seriam recompensados pela
purificação e preparação para ser o verdadeiro Israel.
O povo aprendeu
a ter uma fé individual, sua esperança se fortaleceu e novas formas de culto
foram surgindo e outras foram fortalecidas como a observância do sábado e a
circuncisão, características que os distinguiam dos outros povos.
Outro profeta
exílico é chamado de Deutero-Isaías por ter recebido atribuição de escritos
remontados em Isaías 40 a
55. Este profeta anônimo que provavelmente teve sua pregação oral
posteriormente escrita exerceu uma grande influência para manter a fé do povo
exilado, pregando essencialmente a esperança de um novo tempo, comparando o
passado glorioso de Israel com um futuro onde tudo se renova de forma ainda
maior e Yahweh continua sendo o único e mesmo Deus de Israel. Também
acrescentou conceitos dualistas sob influência da religião persa e seu profeta
Zaratustra.
Um outro
personagem surge trazendo esperança, mas desta vez não era alguém do povo
judaíta e sim o rei persa Ciro, um pagão nomeado por Deutero-Isaías como ungido
de Yahweh para libertar o povo e reconstruir o seu templo em Jerusalém,
libertação tal que só poderia advir de alguém escolhido por Deus.
Os conceitos
sagrados do povo de Israel até então estavam presos a sua terra prometida, seu
templo e sua monarquia. Com o exílio babilônico tiveram que aprender a crer em
Yahweh de outra forma, sem terra, sem templo e sem rei. Os valores da fé
judaíta foram fortalecidos ao relembrar que um dia seu povo foi escravizado no
Egito e recebeu a terra prometida após peregrinar no deserto. Após perder esta
promessa entenderam que não souberam cuidar da terra que Deus havia lhes dado e
sonharam em recomeçar sua história.
Para o povo
cativo na Babilônia foi preciso aprender a cultuar de forma nova, aprender um
novo tipo de vida até descobrir que Yahweh não estava longe e os devolveria a
sua origem. Para o povo cativo que permaneceu em Judá o sofrimento foi
presenciar a destruição de tudo que construíram e conviver com povos que
infiltraram em seu território suportando a saudade de seus irmãos exilados.
As mudanças
foram positivas para Israel, pois se o povo cativo continuasse pensando que seu
Deus só age em sua terra e só pode ser cultuado em sua terra, desde que esta
não seja contaminada com a presença de povos pagãos, a fé na religião de Yahweh
teria se extinguido. Essa abertura para cultuar em outros lugares, crer no
Yahweh onipresente e único, assumir sua culpa na trajetória para o exílio e as
memórias que foram reconstruídas dando valor a escritos e registros de sua
história, foram responsáveis pela reestruturação de Israel com nação onde quer
que esteja para reassumir então sua terra.
Tanto para quem
foi cativo para Babilônia como para quem ficou cativo em Judá, o cativeiro não
significou apenas ser dominado pelo império babilônico, mas a perda de seus
sonhos e sua fé. A libertação aconteceu primeiro quando através dos profetas o
povo aprendeu a crer e sonhar como o futuro.
Quando o povo
judeu voltou para sua terra, reconstruiu seu templo e recomeçou seu culto,
sua fé em Yahweh como Deus soberano era muito maior do que antes do exílio.
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