quinta-feira, 9 de julho de 2020

O Pentateuco Nome e divisões do Pentateuco

O Pentateuco

Nome e divisões do Pentateuco

Pentateuco é o nome pelo qual, tradicionalmente, se conhece o grupo dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento. Trata-se de uma palavra de origem grega que pode ser traduzida por “cinco estojos”, fazendo referência aos estojos (caixas ou vasilhas) onde, na Antigüidade, se guardavam e protegiam da deterioração os rolos de papiro ou de pergaminho utilizados como material de escrita. 
Os judeus designam, por sua vez, esses livros com o título genérico de torah, termo hebraico que, apesar de ter sido traduzido de forma habitual por “lei”, na realidade, tem um significado mais amplo. Torah, de fato, inclui o conceito de “lei” e, até com maior propriedade, os de “guiar”, “dirigir”, “instruir” ou “ensinar” (cf. Dt 31.9).
Leia um esboço sobre cada livro do Pentateuco:
Pentateuco, ainda que se apresente dividido nos referidos cinco primeiros livros da Bíblia, constitui, na realidade, uma unidade essencial. A divisão corresponde a uma época já remota: encontra-se na tradução grega do Antigo Testamento, a chamada Septuaginta ou Versão dos Setenta, que data do séc. III a.C. (Ver a Introdução ao Antigo Testamento). A causa da separação dos livros foi a dificuldade de dispor o texto completo de todos eles em um único rolo, o que seria impraticável por causa do volume excessivo.

O Pentateuco e a história

Característica essencial do Pentateuco (ou Torah) é a alternância de seções narrativas com outras dedicadas a instruir o povo de Israel e a regulamentar a sua conduta, tanto na ordem ética pessoal e social como, muito especialmente, na religiosa.
Em uma primeira parte, que abarca todo o Gênesis e até o cap. 19 de Êxodo, predomina o gênero narrativo. Nessa seção, os relatos se enlaçam uns aos outros, somente interrompidos aqui e ali por algumas passagens de caráter normativo (p. ex., Gn 9.6; 17.9-14; Êx 12.1-20). De Êx 20 em diante prevalecem os textos destinados a estabelecer as normas e disposições nas quais Deus revela o que quer e espera do seu povo. Dessa maneira, desde o impressionante pano de fundo de uma epopéia que vai da criação do mundo à morte de Moisés (Dt 34.12), o Pentateuco mostra-se como o depósito da vontade de Deus manifestada na forma de ensinamentos, mandamentos e leis, cujo objetivo primordial é configurar um povo santo, que seja portador fiel perante o resto da humanidade da oferta divina de salvação universal.

Formação do Pentateuco

Uma obra complexa, extensa e de grande valor religioso e cultural como o Pentateuco manifesta uma série de particularidades estilísticas, literárias e temáticas que se deve levar em consideração ao se estudar o processo da sua formação.
Em primeiro lugar, há certos textos bíblicos que revelam a existência de fontes anteriores ao próprio Pentateuco, como, p. ex., o chamado Livro das Guerras do Senhor, expressamente citado em Nm 21.14.
Em segundo lugar, achamo-nos diante de uma obra literária rica em conteúdo e complexa em composição, que freqüentemente deixa perceber o eco de diversas etapas e distintos narradores. Assim ocorre com as variantes registradas nos dois textos do Decálogo (Êx 20.1-17; Dt 5.1-21); ou com as quatro apresentações do catálogo de grandes festas religiosas israelitas (Êx 23; 34; Lv 23; Dt 16); ou com certas histórias, como a da despedida de Agar e Ismael (Gn 16; 21.8-21) ou com o ocultamento da condição de esposa nos casos de Sara e Rebeca (Gn 12.10-20; 20.1-18; 26.6-14). Cada uma dessas narrações oferece detalhes próprios, que a singularizam e a fazem aparecer como relato original e não como mera repetição de um texto paralelo.
Também com respeito ao vocabulário e estilo observam-se, no Pentateuco, numerosos matizes diferentes. Assim, p. ex., em Gênesis, que começa com uma dupla apresentação do relato da criação (1.1—3.24): enquanto que na primeira o Criador é chamado de Elohim (forma hebraica usual para designar Deus), na segunda é chamado de YHWH Elohim, expressão traduzida por “Senhor Deus” na versão de João Ferreira de Almeida. A partir desses relatos e até o momento em que Deus se revela a Moisés no monte Horebe (Êx 3.1-15), a alternância dos nomes divinos mantém-se com relativa uniformidade.
Algumas passagens do Pentateuco caracterizam-se pelo seu frescor e espontaneidade (p. ex., Gn 18.1-15); outras, como acontece em Levítico, recorrem a uma linguagem jurídica de grande precisão, para tratar de temas legais ou relativos à pratica do culto de Israel; e ainda há outras (como Deuteronômio) que introduzem cálidos acentos, mesmo ao proclamar a Lei e ao exortar o povo a obedecer-lhe em devida resposta ao amor de Deus.
A análise dos indícios mencionados revela que o Pentateuco é o resultado de um processo lento e muito complexo, em cuja origem descobre-se a figura de Moisés, o grande libertador e legislador que, com a sua personalidade, marcou o espírito e a história do povo de Israel; um processo que se encerra com a coleção formada pelos cinco primeiros livros da Bíblia.
Na formação do Pentateuco há um importante trabalho inspirado, que compila, ordena e redige narrações, séries genealógicas e conjuntos de leis que, durante séculos, haviam sido transmitidas oralmente de uma geração para outra. Nele está contida a herança espiritual que Moisés legou ao povo de Israel, uma herança viva, fielmente transmitida e enriquecida com o passar dos séculos.
Os principais temas e as seções correspondentes do Pentateuco podem ser analisados segundo o esquema seguinte:
1. Desde a criação do mundo até a genealogia de Abraão (Gn 1—11).
2. A história dos Patriarcas (Gn 12—50).
3. A saída do Egito (Êx 1—15).
4. Desde o Egito até o Sinai (Êx 16—18).
5. A revelação do Senhor no Sinai (Êx 19—Nm 10).
6. Desde o Sinai até Moabe (Nm 10—36).
7. O livro de Deuteronômio (Dt 1—34).

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